Para o meu irmão.
Por me ensinar o que é o RAP.
Meu irmão Terno me ensinou o que era rap.
Era década de 90 e eu criança só conhecia uma ou outra melodia – as que eram tocadas aos domingos no baile do Brinco de Ouro. A maioria era muito brincante, estilo rute carolina ou lagartixa na parede.
Até que ele, o Língua e o Adilson resolveram criar um grupo de rap. Era o “Explosão do Rap” que, com um pouco de vergonha e um certo ressabio da situação, subiam ao palquinho de rua, que nós mesmos montávamos, cada qual com seu capuz e o apoio do DJ Lula.
Ele me apresentou ao rap, como antes havia me apresentado à literatura: contando mil histórias repetidas mil vezes - porque eu não cansava de ouvir e ele não se cansou nunca de cantar.
Foi através dele que conheci o melhor do rap nacional. Com seu estilo falado, simples, numa levada bem próxima à do Thaíde, vi suas letras nascerem e ganharem as fitas k7, circulando no bairro e ganhando terrenos extra (Ceará, Rio de Janeiro, Hutus), sempre no mundo underground. Mais tarde, meu irmão faria parte do Pânico Brutal, grupo com o qual manteve-se através dos longos anos que nos trazem até aqui e com qual mantém forte vínculo, faria parte, se ainda estivesse em condições de correr pelo Hip Hop.
Pânico Brutal, 1a formação |
Foi a convite dele também que conheci a Posse. Ali, logo no início, cheguei numa reunião em que se debatia ainda o nome do grupo. Poder e Revolução, ficamos.
Na posse ganhamos sonhos compartilhados, formação política e saraus em volta das fogueiras, nas noites frias dos agostos sem fim.
Na Posse, juntos, vimos o Malote chegar. Ele e o Belega, mais aquele menininho que foi morto pouco tempo depois. Estavam ali formando os “Anjos do Rap”. Tinham 14 anos. Eram os nossos caçulas.
Ter entrado na Posse, ter conhecido o Malote, o Belega e todo mundo que por nós passou através da PPR... não se paga. Nem se apaga por pouca coisa.
Ainda mais tarde, ô irmãozinho porreta, já adulta e na labuta de um mestrado na USP, pedi a ele que me ajudasse a escolher um grupo de rap, pois eu pretendia comparar rap, literatura afrobrasileira e literatura africana... e ele simplesmente me re-apresentou o RAP: botou logo pra tocar o disco do Clã Nordestino, ícone do RAP maranhense, A Peste Negra do Nordeste. Desse encontro e desse encanto resultou uma irmã ainda mais politizada, mais pronta pra briga, mais pé de barro, mais poética e mestre em Literatura.
Valeu irmão. Tem valido a pena pertencer à sua família de sangue e de luta.
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