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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Das contradições do capitalismo




Para a Rede Poder e Revolução e Coletivo Perifatividade

Ficamos em casa pensando, esses dias todos, como dividir com nossos amigos e amigas algumas angústias que vêm nos incomodando profundamente e que podem nos ajudar coletivamente a superar algumas das contradições do nosso momento atual.
Então, escrevemos este texto, acreditando que cada um de nós é muito importante no processo de transformação da nossa sociedade, mas que precisamos avançar em alguns pontos.

Começaremos com uma pergunta:
O quê será que Ernesto Che Guevara, os livros, a minissaia e o Movimento Punk têm em comum?
Nossa resposta imediata é: Todos nasceram revolucionários aos olhos do mundo e depois viraram aperitivo para o mal gosto capitalista.

Expliquemos:

Nós fazemos parte de uma geração que presenciou o abandono de toda uma classe à sua própria sorte, às suas próprias (ausências de) leis. Presenciou instalação e a vitória do Neoliberalismo.
Mais do que nossa geração, nossa classe, viu e vê ainda nosso povo sendo cotidianamente oprimido, assassinado, segregado das universidades, de determinados postos de trabalho, de bairros inteiros que não foram feitos para pretos e pobres.

Nosso grupo aprendeu com as gerações anteriores que os livros são bons companheiros: ensinam, divertem, abrem horizontes. Aprendeu que Che Guevara é um grande exemplo de pessoa humana revolucionária; que o uso da minissaia e o desuso do sutiã significavam a libertação feminina contra a opressão do capitalismo machista; e que o Movimento Punk pregava um estilo de vida radicalmente avesso a esse sistema de consumo desenfreado.

Vimos a instauração de mudanças que ainda não conseguimos apreender e nos posicionar.

O que gostaríamos de dizer aos nossos amigos e amigas é que a nossa geração não aprendeu – mas precisa – que os livros não são simplesmente bons. A valorização da cultura letrada, em detrimento da oral, esqueceu de nos contar que escritores e escritoras são pessoas comuns, impregnadas de cultura e intenções revolucionárias ou contrarrevolucionárias. Ainda não aprendemos que os livros escritos e/ou veiculados até hoje, em sua maioria não nos representam – ou pior – depõem contra o nosso povo. Eles nos ensinam, por exemplo, que a história do povo negro no Brasil se esgota ou na escravidão ou na religiosidade ou na culinária – quando, na verdade, o povo negro tem sido o motor que faz com que este país se mantenha economicamente vivo. Nos ensinam que lugar de mulher é na cozinha, que homossexualidade é anomalia e que a elite brasileira não tem nenhuma responsabilidade na miséria econômica e intelectual na qual vivemos.

Assim, amigos e amigas, insistimos: não adianta ter uma porção de bibliotecas se elas forem repletas de Monteiro Lobato e outros do gênero. Esse lixo racista não serve nem pra ser reciclado, pois pode contaminar ainda mais o nosso solo, o nosso ar.


E quanto ao caríssimo Che Guevara? Coitado. Virou Che Consumo. Che Madruga. Madroga. Deve nunca ter descanso em seu túmulo. Sua imagem – que fora símbolo de amor à humanidade e disposição para a luta contra o Capitalismo, hoje nada mais é do que uma camiseta vermelha com um estêncil de um homem sem história.

Com a minissaia não foi diferente. Em um momento ela representava a liberação sexual – necessária – das mulheres. No momento seguinte já se tornara obrigatória. Estranha burca às avessas para que as mulheres sejam aceitas e valorizadas pelo seu “potencial femino”. Sim. As pessoas nos dirão que a inteligência também é valorizada. E o é. Mas o melhor jeito de colocar o gênero em seu (in)devido lugar (inferiorizado, como objeto de consumo, propriedade privada e, portanto, susceptível às violências, mandos e desmandos da nossa sociedade machista) é ainda a velha e boa minissaia. Isso não quer dizer, é óbvio, que mulheres sofrem porque usam minissaia (a burca curta). Sofrem porque são mulheres inseridas em uma sociedade em constante conflito. O capitalismo precisa de categorias de pessoas que possam ser subjugadas, inferiorizadas, para que uma só classe, um só gênero, se perpetue no poder.
Quanto a isso, a pirâmide social brasileira é bem “clara”: Homens brancos no topo. Mulheres Brancas logo abaixo. Depois homens Negros e, na rabeira, por baixo de tudo, sustentando o país, se posicionam as Mulheres Negras.
Se não há capitalismo sem racismo, não capitalismo sem machismo também.

Por último, pensemos no Movimento Punk. Surgido como forma de contestação total ao sistema capitalista – em sua forma de se vestir, de se portar, de não consumir, etc – hoje em dia é só mais um cortezinho de cabelo que pode ser feito em qualquer salão de cabeleireiros, inclusive os mais chiques. Obviamente, também, nesse caso, há quem resista. Mas os punks resistentes não conseguem mais falar de um outro mundo possível, porque sua voz se perdeu no turbilhão. Enfraquecido, agora é só mais um estilo pronto para o consumo.

Enfim. Tem mais uma coisa que a gente gostaria de dizer. E diz respeito à Censura.
Os ditos revolucionários do presente matam e morrem por essa palavrinha triste. Censuraram a censura.
O que ainda não se compreendeu, parece, é que há uma mudança importante de contexto. A ditadura militar agora é outra. O liberalismo venceu e, embora ele nos confunda parecendo revolucionário, nós só estamos “liberados” para nos ferrarmos: Para estudar em escola ruim, consumir o que pudermos, indefinidamente, lermos porcarias racistas, machistas, sermos objetos de consumo muito bem expostas pra uma melhor avaliação do consumidor, etc.

Temos que acordar, perceber que a tendência do Capital é subverter a ordem para mantê-la, não para modificá-la. E o que surge hoje como revolucionário e necessário, em pouco tempo pode se tornar contrarrevolucionário. Precisamos ficar atentos para enxergamos o quanto antes essas mudanças e reformularmos também as nossas estratégias. Isso vale para os livros que escrevemos ou editamos, os saraus que participamos, as bibliotecas que montamos, as pessoas que atendemos em nossos trabalhos sociais, nossos relacionamentos amorosos e todas as nossas bandeiras.

Por último, queremos dizer que nossos coletivos ainda representam o que há de melhor, com nossa capacidade de articulação, indignação, preocupação com o ser humano. Só temos que nos manter alertas e prontos para a mudança que as situações exijam.

Atenção, amigos e amigas. Atenção às contradições desse sistema.

Dinha e Du


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