"Só que a Era do Vamo Ver transcorre lenta, placa tectônica grávida de terremotos. Decepcionada com o que a visão lhe trouxe ela se move, oculta no país das formigas, lentamente separa as terras do trigo e do joio, indicando que o momento de só ver chegou ao fim."
As últimas décadas do “breve século
XX” trouxe no seu bojo o legado de duas grandes guerras mundiais e
seu prolongamento “frio” acima da linha Equador, junto com os
“incêndios” nos territórios abaixo (vide o financiamento de
grupos guerrilheiros no continente africano, por exemplo). Trouxe
também o 'baby boom” brasileiro: uma onde gigantesca de futuros
jovens que se somariam à geração rap, na disposição de cobrar o
que era seu por direito.
Esse fantástico tsunami humano chegou
a tempo, bem na hora. (Eu sou ruim em sintaxe, mas amo a morfologia
das palavras, seus sentidos históricos que se agregam, desagregam e
mantém a língua viva). Era a hora do vamo ver:
Vamo ver quem sobrevive aos atentados
terroristas do Estado, quem vai virar mercadoria embalada sob o
rótulo de militância política, divina ou cultural, quem vai
simplesmente se vender, quem vai se doar, quem vai sair do milharal
sem fim e virar pipoca macia pulando fora ao invés de ficar até se
tornar adubo para o solo fértil revolucionário.
Era a hora do vamo ver quem quem vai
ficar de frente, quem vai dar as costas ou andar lado a lado com o
povo pobre, com @
s mais humildes, @s encarcerad@as, @s deprimidas, @s renegadas, afronordestinas, gays pretos e pobres, maconheir@s e fumadores de crack morando nas ruas.
s mais humildes, @s encarcerad@as, @s deprimidas, @s renegadas, afronordestinas, gays pretos e pobres, maconheir@s e fumadores de crack morando nas ruas.
Vamos ver quem persegue a loucura, ao
invés de perseguir @s louc@s.
Aquela era, realmente, a Hora do Vamo
Ver...
Mas aí, ce sabe, as esquerdas do mundo
ocidental foram erguidas ao poder por força de um sistema
contraditório que, para manter uma determinada elite mundial como
mandatária do mundo, permite a ascensão de partidos
pseudo-revolucionários, os quais, a história prova, estavam fadados
a apenas reproduzir o esquema: há de se diminuir o embate físico
para reforçar a violência simbólica e facilitar a cooptação.
Foi por isso que a hora virou toda uma
Era... A Era das Catástrofes de Hobsbawm passou (embora ainda
existam ameaças de fim do mundo e o mundo acabe cada vez que uma mãe
preta vê seu filho morto – só no Brasil são dezenas de milhares
por ano) e deu lugar à Era do Vamo Ver. E como vimos, esta última,
começou há milianos: quando o rap nacional deu voz à favela,
sonhou com o fim dos massacres ao nosso povo e revelou ao país a
nossa negritude e força de transformação (seu filho quer ser
preto? Há! Que ironia!).
Só que a Era do Vamo Ver transcorre
lenta, placa tectônica grávida de terremotos. Decepcionada com o
que a visão lhe trouxe ela se move, oculta no país das formigas,
lentamente separa as terras do trigo e do joio, indicando que o
momento de só ver chegou ao fim.
É a hora da mudança. É a Hora de
Mover.
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