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sábado, 9 de dezembro de 2017

Porque mulheres escrevem menos romances?




Ou: porque este texto não foi publicado em outros sites...

Ou: Porque já temos cacife para afirmar sem pedir a bênção às estatísticas

Ou: Ou você é São Tomé?


Um dos meus sonhos é escrever um romance (meu e do Du, em coautoria, como este blog). Não qualquer romance... uma trilogia. Trilogia futurista de ficção científica. A história está pronta. As personagens estão eleitas. Assim como o local e a época já constam como escolhidos.
Mas apesar desse sonho grandioso. Eu não me frustraria tanto se a história que eu escolhi só desse em um contozinho de poucas palavras... O importante mesmo é tirar de dentro da minha cabeça e materializar as ideias.
E porque será que eu, poeta negroperiférica, consigo sentar e mandar ver em um poema de forma fixa ou livre, mas não dou conta de uma prosa literária, por mínima que se queira?
Em primeiro lugar, é importante que se diga que esse não é apenas um problema meu. A vida das mulheres em geral, já dizia Virginia Woolf, é atravessada por muitas questões, como o histórico machismo e o histórico racismo que nos fazem trabalhar muitíssimo mais que a média masculina e branca. Além disso, há a dificuldade em parar e dedicar tempo a um trabalho que não nos foi socialmente delegado e não necessariamente nos trará retorno financeiro. Essas coisas dificultam – e muito – a escrita de textos mais longos.
Minha tese por exemplo... vai pra cinco anos já... Mas desse não passa! Não tenho escolha... Serei, enfim, uma escritora pesquisadora doutora (além de favelada, lógico...). 
 
O caso é que, por essas e outras meu romance prossegue esperando. Pode ser que quando minhas filhas crescerem e eu tiver me aposentado (quer dizer... se eu conseguir me aposentar. O mais certo é que a gente morra antes mesmo como pretendem os pretendentes às reformas na aposentadoria), pode ser que enfim eu tenha tempo pra contar histórias longas.
 
No entanto, escrever é uma necessidade. Na escrita nos revelamos, liberamos angústias, construímos utopias e delas nos alimentamos. Por isso, o desdém masculino nos capota, mas não breca e a gente continua escrevendo até debaixo d’água, se for preciso.
Daí que somamos forças e fundamos coletivos que promovem a leitura de mulheres, como o Leia Mulheres ou o Mulherio das Letras, ou ainda o Sarau das Pretas e as Edições Me Parió Revolução. Juntas nos articulamos e impulsionamos a publicação e circulação de livros femininos e independentes. Juntas criamos formas de resistência.
Falei outro dia a uma repórter sobre o fato de muitíssimas mulheres escreverem, poucas serem publicadas e a imensa maioria ser desdenhada com frases do tipo “você é muito emotiva”. Disse a ela que a consequência lógica do ataque masculino é a nossa resistência e vice-versa. Disse ainda que nós seremos as responsáveis por revolucionar essa parada. No fundo eles sabem disso. E é por isso que tanto temem.
Se eu não conseguir escrever meu romance, ao menos as parceiras já sabem que ele esteve no meu horizonte, me alimentou e foi por mim alimentado. E que esse saber abra portas e fortaleça a resistência de outras de nós.



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