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domingo, 5 de março de 2017

João Victor (era eu) somos nós











Quando eu era criança pedia esmolas na rua.

Pedia porque mamãe trabalhava, papai trabalhava, mas a vida em São Paulo era apenas um pouco melhor que em Milagres (segundo contaram meus pais). Então, no início dos anos 1980, nossa trupe de meninas e meninos saía dali de pertinho do Buraco do Sapo, cruzava a Cupecê e desembarcava em Moema, Ibirapuera e outros lugares mais verdejantes que o velho Jardim Miriam.

Eu era pequena, por isso, levada pela mão. Algumas vezes, por ser das menores, ficava incumbida de fazer a cara de miserável mais miserável do que a indiferença via e pedir a comida de sobra das famílias bem sucedidas.

Muitas vezes funcionava.

Voltávamos para casa alimentadas e carregadas de brinquedos que ninguém mais queria, roupas, calçados e até algum dinheiro. Às vezes algum dinheiro vinha.

Quando mamãe descobriu proibiu. E então nos resignamos na nossa pobreza.




Nem uma nem duas nem três. Mil vezes corremos desesperadas do SOS Criança, de cobradores com raiva, vigilantes com medo.

Crianças, nós ríamos. Crianças, nós corremos.

Felizmente tamo aqui ainda.

Ainda viva, gente.

Ainda viva…




Já pensou seu eu trombasse um habbib’s?

Ou se um daqueles outros me pegassem???

Era osso.

Foi osso.

Será osso toda vez que pessoas tenham que pedir esmolas e outros tenham que matar quem tem fome.



João Victor, sua história era a nossa.

Só que nós sobrevivemos… não sobrevivemos?

E você… nunca mais vai sentir fome.



Não é simples assim, eu já sei...  mas se permitam sentir um pouco de vergonha (esse sentimento revolucionário e pouco afeito a coxinhas e otários), pois a  História, como um novelo dialético de lã, vai e volta. Uma hora faremos justiça aos nossos ex-futuros homens.

Nós, as mulheres e homens, ex-crianças, na rua desse lugar sem nome, um dia te faremos justiça (justiça social, que se diga).

É o plano.

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