Hoje é o dia em que nasceu Carolina.
Eu gostaria de falar sobre ela, homenageá-la. Afinal, poucas mulheres têm o privilégio de serem lembradas 100 anos após o seu nascimento. No mundo da literatura então, nem se fala... no mudo que evolve literatura e negritude, se fala menos ainda... No mundo que envolve mulheres, literatura, negritude e favela.... ufa... é melhor parar por aqui...
Mas eu quase desisti de escrever sobre Carolina hoje, porque temos feito isso há dias, por conta de seu centenário e porque precisamos formar e informar sobre sua pessoa, até para arrecadarmos os valores necessários para a publicação que irá homenageá-la.
Quase desisti também porque topei com o jornal Folha de São Paulo essa manhã e não vi nenhuma referência ao Centenário da Carolina.. Em compensação, tive o desprazer de ler o texto "Desafios do feminismo", de Hélio não sei das quantas... Um daqueles colunistas chatíssimos, repletos de senso comum, mas que se acham...
Pois bem. O seu senso - que, como disse, não excede o "comum" - nos retrata como aproveitadoras, "reclamonas", pouco produtivas, pouco arrojadas e "desinteressadas da política" e outros setores onde temos pouca representatividade. Segundo ele, não há o que reclamar, já que do ponto de vista jurídico, se há discriminação na atualidade, ela seria "favorável" à condição feminina. O dito cujo nunca na vida deve ter ouvido falar em equidade e processo histórico. Provavelmente acredita no "mundo das escolhas" e na meritocracia, como quem acredita em fada madrinha e bicho papão.
Ora, desconstruir o seu senso comum é tarefa árdua e demorada, já que ele carrega o peso histórico de séculos de opiniões formadas com base em ideais capitalistas, machistas e meritocráticos. Não tenho tempo pra isso na manhã em que Carolina faria 100 anos...
Outro dia, quem sabe?
Por enquanto, vou deixar um poema, pra ela, pra nós que resistimos diariamente ao machismo, racismo, classismo e outros ismos típicos.
Receitas,
diagnósticos e outros MMS ́s
Ao
menino preto e pobre,
Um
X de dignidade:
Ingerir
no início do dia.
À
menina preta e pobre
Cuidado
no início da tarde,
O
dobro no fim do dia.
II
Pra
diminuir o espaço
Entre
a zica e o cansaço,
Recomendaria
um lapso
(entre
a sopa e a canjica).
Depois
duas prosas no dedo,
O
medo cantando a cantiga,
encontro
desencantado
o
futuro suicida.
III
Entre
o esgoto e a angústia
O
sorriso petrifica.
Nem
podia olhar de lado.
Continua
Entre
o esgoto e a angústia
A
dúvida
cobria
o calor da comida.
III
No
quintal de Iracema
A
pedreira deu frutos
E
a mangueira
Petrificou.
Continua
No
quintal de Iracema
Uma
fome espantada
Engoliu
sua casa e
Voou.
Continua
Passareza
voando ao inverso.
SMS
Quebrando
o silêncio
Sanção
Tua
voz pra calar o abismo:
Um
tipo de teto de vidro
Tapando
os buracos do chão.
Boa
tarde.
Te
amo como quem nasce.
Nua,
esperada e
Saudade
Essa
tristeza é parte
Da
tarde, da luz, da engrenagem.
Desisto.
Tua
tristeza é princípio.
Mais
tarde nos desencontramos.
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